Resumo da Notícia
- Estamos em outubro! E uma das datas mais esperadas pelos pequenos está bem próxima, sim, o Dia das Crianças;
- E ao pensarmos em 12 de outubro, uma palavra vem à cabeça: brinquedos! E não há mal algum nisso! Afinal, elas merecem um mimo.
- No entanto, é muito importante aproveitar a data para lembrar de algumas questões essenciais da infância.
Estamos em outubro! E uma das datas mais esperadas pelos pequenos está bem próxima, sim, o Dia das Crianças. E ao pensarmos em 12 de outubro, uma palavra vem à cabeça: brinquedos! E não há mal algum nisso! Afinal, elas merecem um mimo. No entanto, é muito importante aproveitar a data para lembrar de algumas questões essenciais da infância.
A Pais&Filhos publicou um manifesto da infância que faz muito sentido para o Bebê em Foco. Pensando nisso, conversamos com especialistas para desvendar o manifesto e trazer a reflexão sobre como cada um de nós pode fazer a sua parte para garantir que as crianças continuem sendo crianças, brincando e aproveitando muito esse momento tão especial da vida.
Adultizar a infância é um erro!
Competições, desfiles, maquiagens, roupas, sapatos, cabelos, danças, músicas, páginas em redes sociais, jogos e acesso a conteúdo para adultos. Esses são hábitos que se incorporados fora de hora, fazem parte do processo de adultização. Mas é importante saber que a criança tem o direito de viver a infância plenamente e a adultização significa acelerar esse processo. E acelerar qualquer parte da vida pode ser cruel. Perder a infância pode significar muitos danos no desenvolvimento do pequeno.
Atualmente as crianças são muito cobradas pela sua performance e vivem sendo comparadas – como se aquela que produz mais fosse mais esperta ou inteligente. De acordo com a psicanalista Renata Bento, essa necessidade é do adulto e crianças não são mini adultos. “Quanto mais a infância for protegida, melhor chance de se tornar um adulto integrado. O papel do adulto é acompanhar o amadurecimento da criança, favorecer o brincar, o uso da imaginação e criatividade. Durante a infância, a criança está se descobrindo, e por isso é preciso que haja espaço para que essa descoberta ocorra sem que seja sufocada todo tempo pelas demandas dos adultos”, explica.
A especialista ainda alerta: “Proteger a infância é permitir que a criança experimente cada etapa de seu amadurecimento e que seja amparada e cuidada pelo adulto”. Uma criança feliz e sadia é barulhenta, inquieta, altruísta e rebelde e deixar o pequeno viver esse momento em sua totalidade é primordial.
Criança não trabalha, criança dá trabalho!
Qualquer trabalho realizado por uma criança ou adolescente abaixo da idade mínima permitida é considerado trabalho infantil. No Brasil, qualquer forma de trabalho infantil é totalmente proibida até os 14 anos de idade. No entanto, a realidade de muitas crianças já é trabalhar.
Seja no campo, nas ruas ou com empregos domésticos muitas crianças são submetidas a perda da infância. De acordo com a Organização Internacional do Trabalho (OIT), em 2016 havia 152 milhões de crianças e adolescentes de 5 a 17 anos em situação de trabalho infantil no mundo. E se é no brincar que a criança vive a sua realidade, constrói a linguagem, a inteligência – em que momento elas podem se desenvolver?
Para Renata Bento, acompanhar o amadurecimento de uma criança não é tarefa fácil. Criança demanda tempo e disponibilidade afetiva e isso exige preocupação. A criança não cuida do adulto, é o adulto que cuida da criança. A criança não tem trabalho, ela dá trabalho.
“Quando uma criança trabalha, diminui o seu tempo disponível para convivência familiar, para brincar, estudar e aprender. O trabalho infantil é a porta de entrada para as demais violações de direitos de crianças e adolescentes. Ter uma infância à deriva, atropelada pelas tarefas adultas, retira da criança o tempo tão importante de descoberta dela própria, de quem ela é, do que ela gosta, do que a faz feliz”, explica a especialista.
Ou seja, a infância termina, mas a criança que fomos nos acompanha dentro de nós por toda a vida – o que pede ainda mais atenção para essa etapa da vida.
Cuidado com as redes sociais
O trabalho infantil artístico é uma realidade que cresce no mundo. Mas é preciso atenção. O excesso de responsabilidades e cobranças pode ser um problema. É necessário muita responsabilidade para com o pequeno. No entanto, para aqueles que trabalham com as redes sociais, a linha pode ser ainda mais tênue.
O faz de conta e a imitação de modelos faz parte da brincadeira infantil, é assim que se cria experiências a respeito da vida. A criança treina copiando certos modelos até se descobrir. Elas querem imitar quem admiram e brincar de ser gente grande, mas as redes sociais trouxeram uma nova categoria: os influenciadores.
Para a psicóloga Marcia Berman Neumann, neste ponto, muitos adultos encontraram a oportunidade de ganhar dinheiro. “É comum vermos crianças brincando de ser youtubers e influenciadores – e os pais ‘aproveitando’ disso. O que aponta um questionamento: será que o trabalho infantil foi repaginado? De certa forma sim, e continua caracterizando exploração e roubo a infância”, alerta.
Não é difícil encontrar casos de influenciadores mirins que começaram uma rede social como brincadeira e agora, são obrigados pelos pais a gerar conteúdo, fazer anúncios de patrocinadores e manterem uma rotina de publicações. E de acordo com as especialistas, essas atitudes refletem um tipo de exploração e trabalho infantil – visto que o pequeno não trata mais a atividade como diversão e sim, obrigação.
Criança tem a obrigação de brincar (e muito!)
O brincar é muito importante para a criança. Todo pequeno deveria ter o espaço do brincar como algo sagrado. Para Marcia, a brincadeira desenvolve habilidades como integração, noção do corpo e do espaço, a parceria, o raciocínio lógico e a criatividade. Ou seja, o desenvolvimento ocorre através do lúdico e isso significa que a criança precisa brincar para crescer e desenvolver estas capacidades.
Brincadeira é coisa séria! Para Renata, uma criança que não brinca pode estar passando por dificuldades emocionais importantes. O brincar é a forma como a criança experimenta o mundo e um jeito de projetar seus conflitos inconscientes em busca de um sentido.
Então, que tal aproveitar momentos com o pequeno do seu lado? Entenda que tão importante quanto a educação, o lazer e o brincar fazem parte do checklist das coisas a serem feitas com a criança. “É preciso tempo, paciência e dedicação. Reúna a família, brinquem juntos e crie momentos especiais – você verá como isso muda positivamente as relações”, orienta Renata.
Sim, as crianças devem ter deveres e limites!
É claro que as crianças podem decidir por algumas coisas. Elas são capazes de discernir o que gostam ou não, mas o pequeno não sabe até onde pode ir, e esse limite precisa ser delimitado por um adulto. “O desenvolvimento saudável exige um treino para lidar com as frustrações e para conhecer seus limites. Quando os pais estabelecem regras claras e consistentes, eles permitem aos seus filhos saber qual é o comportamento que se espera deles”, explica a psicóloga Marcia.
Dessa forma, é possível treiná-los para viver no mundo adulto, onde as exigências do mundo exterior a sua casa, pedem comportamentos adequados, seja na escola, no trabalho ou para um bom convívio social.
Então sim, você pode dizer não – que de acordo com as psicólogas entrevistadas, assim como os limites, fornece a sensação de segurança, raízes e apoio; cria a internalização das regras e deveres; ajuda na lida com autoridade, limites e frustrações. Para as especialistas, essas atitudes também previnem a falta de autonomia e autoestima.
Mas, cuidado! É muito importante impor esses limites de forma amorosa e explicar sempre os porquês dos nãos. “Assim, a relação fica menos autoritária e o diálogo ganha espaço como modelo. Atente-se a idade da criança e ao uso adequado da linguagem a cada etapa do desenvolvimento. Ser claro e breve é mais eficiente do que aquelas longas broncas!”, alerta a psicóloga.
Não se esqueça: limite é amor, é mostrar a criança que ela está inserida em um mundo com diferenças e particularidades.
Seja presente! Aproveite com as crianças!
A tarefa de criar filhos é uma das mais difíceis da vida. As configurações da sociedade e da família mudaram muito nos últimos tempos, mas uma coisa não muda: a necessidade do convívio! Seu filho precisa de você e do seu tempo. Vale lembrar que estamos falando de qualidade e não quantidade.
“As crianças gostam de dividir o seu mundo com os pais, de contar coisas, de desenhar, de brincar. Aproveitar o tempo é permitir estar com a criança envolvido no mundo dela e também saber a hora de retornar e deixar a criança seguir a brincadeira dela”, explica Renata.
Enxergar as reais necessidades é muito importante, assim como entender que você é referência e modelo. Crie resiliência e mostre que existe equilíbrio entre trabalho e família. Enfim, seja o modelo de valores que deseja transmitir a eles.
Então, não é nenhum segredo que as crianças adoram brinquedos novos – e sim, o Dia das Crianças também é para isso. No entanto, o melhor presente que qualquer criança poderia receber é a presença contínua de seus pais em sua vida e uma infância protegida. Enquanto para os pais, ceder o tempo, energia e amor para os filhos é uma das coisas mais importantes a se fazer.
Especialistas: Renata Bento é Psicanalista, membro Associado da Sociedade Brasileira de Psicanálise do Rio de Janeiro. Especialista em criança, família e adulto | Tatiane de Sá Manduca é Psicóloga Clínica e atende em consultório próprio | Marcia Berman Neumann é Psicóloga infantil e Colaboradora da Clínica de Pediatra Toporovski.